terça-feira, 28 de abril de 2009

Passagem Secreta


Tenho raiva porque não sei onde
paira nem quando pára.
O que?
Sentir-me assim,
comover-me enfim,
dizer um sim nem sempre basta.
Prefiro um não,
é melhor então
o bater do coração,
o som de uma canção,
a rapidez da pulsação,
a sensação no ouvido,
pois sei que estou vivo.
Mas continuo com raiva,
não é doença, não,
é um sintoma,
não como o cão,
mais como o som de um trovão.
Mas sim, por fim,
confio em mim,
penso por mim,
e escrevo assim,
escrevo assado,
escrevo letra a letra
a letra do lado.
Faço uma frase
crio uma rima
lanço um poema
escolho um tema,
e penso no que quer que seja o problema.
Apuro os sentidos,
encontro os sonhos perdidos
que nunca perco.
Apenas guardo
num sítio só meu,
escondidos de olhares perdidos
que estão sempre sozinhos.
Raiva?
Por vezes,
mas contra mim nada é capaz,
porque controlo o meu tempo,
e ele transforma,
qual alquimista,
o que vejo longe da vista,
e me fornece paz.

"Nuno C. Pinto"

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